Pesquisas revelam que consumidores estão mais conscientes sobre questões ambientais e não querem o retorno ao mundo como era antes da pandemia
O isolamento social ocasionado pela pandemia do novo coronavírus trouxe desafios, mas também gerou reflexão e possibilitou o vislumbre de um mundo diferente. Nesse contexto, a indústria têxtil e outros setores têm a oportunidade única de recomeçar e atender consumidores que anseiam por um mundo mais consciente em termos socioambientais.
Pandemias e degradação ambiental
No modelo econômico vigente – baseado em uma economia linear – os recursos naturais são extraídos até o seu esgotamento. Nesse processo, os resíduos não retornam para a cadeia de produção e o resultado é um ambiente poluído, pobre em biodiversidade, socialmente excludente e insalubre. A disseminação do novo coronavírus a nível mundial trouxe à tona essa relação entre saúde e ambiente. Mas já era de conhecimento dos cientistas ambientais que habitats poluídos e degradados aceleram os processos evolutivos de patógenos, promovendo e diversificando doenças, uma vez que aumenta a migração de micro-organismos para rebanhos e seres humanos.
Nesse sentido, é possível imaginar dois desfechos possíveis para o modo como a sociedade tem lidado com a pandemia. O primeiro é caracterizado por uma tentativa de retorno ao mundo pré-Covid, em que, apesar de não ser o ideal, era o que conhecíamos. Já, o segundo, ainda desconhecido, convida à construção do que tem se chamado popularmente de “novo normal”.
Pessoas não querem a volta ao antigo “normal”
Pesquisas mostram que a construção do “novo normal” é um desejo da maioria. De acordo com levantamento de enquetes feito pelo jornal The Guardian, menos de 13% das pessoas gostariam que o mundo fosse “exatamente como era antes”. Outras três enquetes com a mesma pergunta revelaram que esse número chegava a cair para 13%, 9% e impressionantes 6%. Na lista dos desejos, um deles era: “um mundo com menos poluição e destruição ambiental”.
Esses dados indicam que, além de desafios, o isolamento social proporcionou às pessoas o vislumbre de uma sociedade diferente e possivelmente melhor, pautada em um “novo normal”. Mas o desejo de mudança já existia antes mesmo da chegada do novo coronavírus. No Brasil, pesquisas anteriores à pandemia feitas pela GlobeScan e o Instituto Akatu mostraram que o consumidor brasileiro está aumentando a sua consciência ambiental. Na pesquisa, esse fato ficou mais evidente quando o tema envolvia mudanças de comportamentos com relação a resíduos, mobilidade e alimentação.
Oportunidade para o setor têxtil
Os resultados das pesquisas mencionadas apontam oportunidades para as marcas construírem uma relação de confiança e compromisso com seus stakeholders e contribuírem para a solução de questões ambientais, sociais e econômicas urgentes. Em outras palavras, o momento desafiador também pode ser interpretado como uma chance de mudança. E no setor têxtil não é diferente.
A indústria tem a oportunidade única de recomeçar e construir novos sistemas em que aspectos socioambientais e colaboração prevaleçam para gerar oportunidades iguais e um ambiente saudável. Novos pactos podem ser estabelecidos entre produtores, fabricantes, distribuidores e recicladores. Cadeias inteiras podem ser integradas, gerarem renda compartilhada e impacto social positivo, principalmente por meio da transição de uma economia linear para a circular, aumentando, por exemplo, rastreabilidade, qualificação e quantificação dos seus impactos reais e formas de mitigação, como a reciclagem de resíduos têxteis.