Resíduos têxteis podem voltar para cadeia de produção nas indústrias automobilística e imobiliária e gerar renda compartilhada
A reciclagem do poliéster é controversa, já que o uso desse material gera microplásticos, principalmente durante a lavagem de roupas. Entretanto, há uma oportunidade no mercado que não depende da indústria da moda e que pode reduzir os impactos da produção do material e a geração de microplástico: a absorção do poliéster reciclado pelos setores imobiliário e automobilístico. Além disso, reintroduzir o material na cadeia de produção poderia gerar renda compartilhada, lucro e arrecadação para o setor público.
Material controverso
Poliéster é uma categoria ampla de polímeros, mas o termo normalmente se refere ao politereftalato de etileno, ou PET. Esse material dá origem a uma diversidade de produtos, que vão de garrafas de plástico a vestimentas.
Com baixo custo, alta durabilidade e resistência a produtos químicos, radiação e pressão, o poliéster representa 52% das fibras têxteis do mundo, e faz parte da composição de tintas, pneus, isolantes, instrumentos, entre outros artigos.
Por outro lado, também há desvantagens. É um material de origem não renovável e, em sua produção, há impactos socioambientais da instalação de usinas petrolíferas, além de gasto de energia e emissão de compostos orgânicos voláteis (VOCs) e efluentes. Já no consumo e pós-consumo, são gerados micro e nanoplásticos, principalmente durante a lavagem das roupas, que é responsável por gerar 35% dos microplásticos encontrados nos oceanos.
Apesar de sua propriedade de poder ser submetido à reciclagem (o que evitaria os impactos associados à extração de petróleo), este não é o destino mais frequente do poliéster, uma vez que apenas 14% do PET presente no mercado mundial é reciclado. E a produção diária continua crescendo nas usinas de petróleo diariamente.
Papel dos catadores na reciclagem do poliéster
No Brasil, os catadores são atores importantes na reciclagem de materiais como o alumínio. Entretanto, devido a políticas públicas ineficientes e desarticulação do setor, isso não se aplica ao poliéster.
Em participação no webinar da 4ª edição da Brasil Eco Fashion Week (BEFW) – mediado pelo CEO da Retalhar, Jonas Lessa – a coordenadora de projetos do aplicativo Cataki, Juliana Fullmann, aponta que a própria lei é um empecilho para a catação de PET. Segundo ela, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) tem suas limitações, já que não inclui o catador autônomo dentro das definições do que é ser um catador de material reciclável.
Isso faz com que o catador autônomo, importante agente ambiental especialmente nos grandes centros urbanos, não consiga fazer boas negociações – principalmente com garrafas PET, que fazem muito volume e pouco peso – o que acaba inviabilizando o retorno financeiro do poliéster para a categoria e, consequentemente, sua catação.
Oportunidade para todos
O Brasil é um grande consumidor de poliéster, porém, a reciclagem desse material no País não é significativa. Todos os dias são descartados retalhos em bom estado nas ruas de grandes centros. Esses descartes podem vir a fazer parte da catação e gerar renda, uma vez que, diferente das garrafas PET, têm peso significativo com pouco volume.
A reciclagem de poliéster é uma oportunidade de geração de renda para os catadores e outros grupos envolvidos nesse processo. Além disso, retornar o material para a cadeia produtiva com logística reversa evitaria os impactos da produção (que continua ativa) e também poderia gerar arrecadação para o setor público e lucro para empresários, sem depender da indústria da moda.